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Luis Sepúlveda em Montemor

O escritor Luis Sepúlveda, que faleceu no passado dia 16 de abril, esteve em Montemor-o-Novo a 15 de setembro de 2003, para celebrar o terceiro aniversário da livraria Fonte de Letras. Os repórteres da Folha estiveram lá e revelaram o que se passou naquela noite.



Este ano S. Pedro foi amigo, enviou bom tempo para a noite de 15 de Setembro, e o Largo do “Chafariz do Besugo” encheu-se para acolher a festa do terceiro aniversário da Livraria Fonte de Letras. Assim, todos pudemos estar bem à vontade, comprar livros, conviver com escritores e passar um óptimo final de dia.

Helena Santos apresentou a festa referindo que este terceiro aniversário iria ser vivido de forma diferente. Assim, todos os meses, a Livraria irá trazer a Montemor personagens de revelo, que podem ser escritores, artistas, ou mesmo políticos para apresentar os seus trabalhos e conviver com os leitores da Fonte de Letras.

De seguida, foi apresentado o último número da revista Egoísta, tendo o designer Henrique Cayatte referido que a revista “é um produto editorial completamente novo” revelando ainda que “só faz sentido fazer uma revista para inovar”. O tema deste número são “Os Heróis”, tendo a jornalista Ana Sousa Dias referido que aparecem na revista “duas heroínas que tiveram a ideia de efectuar uma aventura extremamente corajosa”, numa clara referência ao trabalho sobre a Livraria Fonte de Letras e as suas proprietárias que está incluído nesta edição da Egoísta.

A estrela da festa foi Luís Sepúlveda que brindou Montemor com a sua presença, a convite da Livraria. A apresentação do livro “O General e o Juiz” foi o mote que conduziu os presentes a reviverem os ideais e as acções que foram desenvolvidas na companhia de Salvador Allende, nos “mil dias felizes” que precederam o golpe de estado que instaurou a ditadura no Chile.

“O General e o Juiz” é um segundo nome para este livro militante e de intervenção, que Luís Sepúlveda escreveu entre 1998 e 2000, aquando da detenção do General Pinochet em Londres. São textos que não querem “perdoar nem esquecer”, mas sim relembrar a tomada do poder no Chile pelo General Augusto Pinochet, com a ajuda da CIA que foi consumada no dia 11 de Setembro, em 1973. Instaurando-se a repressão pela anulação temporária da democracia que veio a vitimar milhares de cidadãos livres. Na introdução da obra pode ler-se que “Este livro contém uma selecção de artigos escritos durante essas jornadas de luta, publicados em diversos jornais e revistas do mundo, reproduzidos em milhares de páginas na Internet, lidos por estações de rádio chilenas e impressos em panfletos distribuídos pelas ruas de Santiago. Juntamente com Ariel Dorfman assumimos a responsabilidade de responder às infâmias da direita chilena e aos despropósitos e mentiras do governo chileno. Agitámos, escrevemos artigos verdadeiramente agitadores, subversivos, porque a verdade é sempre subversiva”.

Neste “memorial dos anos felizes”, a que o autor deu voz no adro da Fonte de Letras, afirma que “os mil dias do Governo de Unidade Popular foram muito duros, intensos, sofridos e ditosos. Dormíamos pouco. Vivíamos em todo o lado e em lado nenhum. Tivemos problemas sérios e procurámos soluções. Nesses mil dias, para todos aqueles e aquelas que tivemos a honra de ser militantes do processo revolucionário chileno, foram dias felizes, e essa felicidade é e será sempre nossa, permanece e permanecerá inalterável”.

Neste fim de noite, Sepúlveda reviveu, em sintonia com a plateia, o tempo a seguir ao passado, recordou Allende, de primeiro nome Salvador, e repovoou de exemplos vividos a força anónima que iluminou com a esperança e o trabalho “os mil dias mais plenos, belos e intensos” feitos por aqueles que ficam para a história do Chile.

Ainda e sempre recordando Salvador Allende, Sepúlveda discorre que “quando, nos momentos mais duros dos nossos dias, a provocação do fascismo da direita, do imperialismo ianque, fazia com que a ira se instalasse perigosamente nos nossos ânimos, o companheiro Presidente aconselhava-nos: Vão para as vossas casas, beijem as vossas mulheres, acariciem os vossos filhos.”

Pensando o passado a esta distância reafirmou que “agora, a trinta anos da grande traição, que a proximidade dos nossos, que a recordação dos que faltam, e o orgulho de tudo o que fizemos sejam os grandes convocantes do que devemos lembrar. Que as palavras Companheira e Companheiro soem como uma carícia, e bebamos com orgulho o vinho digno das mulheres e dos homens que deram tudo, que deram tudo pensando que não era o suficiente”.

No final do aniversário o habitual “Parabéns a Vocês” foi substituído pela “Rosa Enjeitada”, presente de Lula Pena para esta festa das letras.

Texto: José Manuel Nunes Nabo e A.M. Santos Nabo

Foto: MF Novo



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