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Gruta do Escoural é uma das 50 maravilhas de Portugal




A revista National Geographic, na sua edição portuguesa, apresentou no mês de julho as ’50 Maravilhas de Portugal’, onde inclui a Grua do Escoural na secção ‘Museus Inesperados’, como algo que os portugueses não devem deixar de visitar. Num destaque de duas páginas, refere-se que “a Gruta do Escoural”, nos arredores de Montemor-o-Novo, dá a descobrir a cultura, os hábitos e os ritos dos nossos antepassados”.


No dia 17 de abril de 1963, o tiro de uma pedreira na Herdade da Sala, Freguesia de Santiago do Escoural, colocava a descoberto aquele que seria um dos mais importantes achados arqueológicos do seculo XX em Portugal, tendo revelado uma sala repleta de numerosas ossadas humanas e restos de cerâmica. Esta descoberta foi totalmente acidental, fruto de um trabalho de extração de pedra no local. Valentim Fernandes e Olímpio Graxinha eram os únicos trabalhadores no local. “Dissipada a densa nuvem de poeira provocada pelo tiro da dinamite, ambos se deram conta do inesperado aparecimento de uma pequena abertura que dava acesso a um ignorado e misterioso espaço subterrâneo. Curiosos, o encarregado e o seu jovem ajudante, munidos de um «petromax», decidem explorar a estreita passagem aberta pela dinamite (…) só após alguns minutos de habituação à penumbra se aperceberam que caminhavam sobre esqueletos humanos calcificados que se fragmentavam sob o seu próprio peso. Aí, o medo terá sido bem mais forte do que a curiosidade, tendo ambos regressado rapidamente ao exterior”, descreve o arqueólogo António C. Silva.

Farinha dos Santos, o principal explorador da Gruta do Escoural, em texto redigido para a Enciclopédia Luso-Brasileira, descreve a gruta como uma “cavidade subterrânea constituída por cerca de três dezenas de galerias que, sucedendo-se irregularmente em vários andares, dão origem a salas, corredores, rampas e pequenas câmaras. O percurso principal da Gruta, com cerca de cinquenta metros, orienta-se no sentido Norte-Sul, a contar da entrada primitiva, e mostra-se cruzado por galerias que se ramificam em várias direções”. Este arqueológo refere também que “grande parte da superfície da gruta apresentava-se, aquando da sua descoberta, com grupos de ossadas humanas, junto das quais existia espólio arqueológico característico, principalmente vasos de cerâmica inteiros e fragmentados, machados, enxós e goivas de pedra polida”.

O impacto desta descoberta teve ecos nos jornais nacionais e mesmo internacionais. Em Portugal, o Diário de Notícias, em 20 de julho de 1964 comunicava a descoberta da Gruta, e o ‘The Times’, de Londres noticiava a importância da descoberta a 14 de janeiro da 1965, referindo que as pinturas encontradas na Gruta deveriam ter mais de 20.000 anos, sendo das mais antigas descobertas na Europa, o que demonstra a importância científica que a Gruta tem. Por sua vez o jornal ‘The Daily Telegraph’, a 26 de março de 1965 referia-se à Gruta do Escoural como o local onde estavam os mais antigos desenhos do mundo.

A Gruta do Escoural é um testemunho excecional da história das comunidades humanas que ali deixaram fossilizada uma parte importante do seu comportamento, tendo sido classificada Monumento Nacional em 1963. Aurora Carapinha, no prefácio da última obra publicada sobre a Gruta refere que “a importância, o valor, o significado e a singularidade deste local espelham-se quer na rápida classificação da Gruta do Escoural enquanto Monumento Nacional, quer no interesse que este sítio arqueológico despertou no universo dos arqueólogos nacionais e internacionais, nos estudos que sobre ele se foram realizando ao longo destes cinquenta anos”.

Na entrada da Gruta, o visitante tem de se curvar, como que a prestar homenagem aos mortos que ali ficaram depositados durante milénios e que são um testemunho da presença humana nestas terras. A vénia forçada é quase como um pedido de licença para entrar e poder descobrir o que os nossos antepassados entenderam deixar-nos como prova da sua existência nestas paragens. Despois de um período de adaptação à penumbra existente na cavidade natural, a sensação de se estar numa gruta que foi habitada pelos homens da Pré-história começa a tomar conta do visitante. A visita guiada revela, numa primeira parte as pinturas existentes e numa segunda parte as gravuras que aqueles homens deixaram cravadas na rocha.

A arqueóloga Mila Simões de Abreu refere que “o visitante atual, entrando em direção oposta não se apercebe do percurso labiríntico que terá sido feito pelos artistas pré-históricos até chegarem ao grande salão central. Ampla e repleta de superfícies planas essa sala parece ser o «coração» da gruta. Aí, nos divertículos e nas galerias adjacentes, foram descobertas em outubro de 1963, por M. Farinha dos Santos as primeiras figuras de equídeos, bovinos e sinais”. Esta especialista salienta que “o Escoural, como único exemplar de gruta decorada existente em Portugal representa um verdadeiro santuário do paleolítico superior onde os homens deixaram através da arte rupestre vestígios do seu complexo mundo cognitivo”.


Planos para o futuro


No sentido de sabe o que o atual órgão executivo tem previsto para este monumento, a Folha questionou o vereador António Xavier sobre o que está a ser desenvolvido no Centro Interpretativo da Gruta. O autarca respondeu que “neste momento estamos a terminar um processo de reestruturação total do discurso expositivo onde vamos disponibilizar mais informação e, sobretudo, pretendemos que esta seja mais clara do ponto de vista dos visitantes. Neste processo estão a ser aplicados meios interativos que visam não só uma experiência visual da Gruta, mas também sensorial. Há também um especial enfoque no processo de descoberta”.

Questionado sobre como irão decorrer as visitas à Gruta, António Xavier referiu que “Neste momento, apenas posso adiantar que a visita à Gruta mantém os moldes habituais, ou seja, com marcação prévia (por razões de segurança e conservação, as visitas à Gruta do Escoural estão sujeitas a diversas restrições e condicionantes). Penso que nunca é demais relembrar que as Grutas do Escoural são um monumento nacional (e não local) e que o Município coopera com a Direção Regional da Cultura do Alentejo na gestão de ambos os espaços. E refiro que esta é informação que posso dar, de momento, pois estamos a rever o protocolo de colaboração entre todas as entidades envolvidas na gestão do conjunto arqueológico da Gruta do Escoural, Centro Interpretativo e o acompanhamento da visita à Gruta. Pretendemos melhorar a relação com o visitante e garantir a visita à Gruta em horários específicos, facilitando a organização e garantindo a salvaguarda do património. Para concretizar esta vontade, teremos que ter um reforço de verbas por parte de todas as entidades e posso adiantar que já chegámos a uma base de entendimento”.

Sendo a atividades turística considerada como um fator de desenvolvimento das regiões, António Xavier sublinha que “existe um plano para incluir as grutas num roteiro turístico, não só do ponto de vista concelhio, mas também regional. É que para além da importância da Gruta que é a única, em Portugal, conhecida com arte rupestre paleolítica no seu interior e das poucas (conhecidas) da Península Ibérica, temos um concelho com uma grande quantidade de monumentos pré-históricos o que, em teoria, nos dá um forte potencial de atração para este nicho turístico”.

A Gruta do Escoural pode ser visitada por marcação, às 10:30 e às 14:30, através do contacto telefónico 26685700 e do endereço de correio eletrónico grutadoescoural@cultura.alentejo.gov.pt.



A.M. Santos Nabo



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